Pai
Há
mais ou menos 4 anos escrevi aqui no blog o texto intitulado Será o fim? Nele questionei sobre a morte, suas reações e crenças frente a esse momento que
ninguém está preparado para enfrentar.
Foram 09 meses de muita dedicação, cuidado e carinho. Muita dor,
sofrimento e tristeza.
Perdi o homem mais
importante da minha vida. Aquele que me amou, me instruiu e tanto me fez
crescer e ser quem sou hoje, mesmo nos longos meses de hospital, ao seu lado e
sem ouvir a sua voz, aprendi com ele. Aprendi sobre o silencio e seus vários
aspectos. Sempre gostei de ouvir o silencio, frase essa já citada no blog antes
e que intriga algumas pessoas. Hoje, prefiro música clássica ao silencio. Amava
ficar só, hoje não mais.
Em todos os momentos que estive ao lado dele, eu
falava e cantava e lia e sorria e quando não continha as lagrimas saia de perto
para que não me visse triste. Não resolvia muito, eu saía do choro mas o choro
não saía de mim, da mesma forma que a dor de vê-lo
sofrer numa cama racionalmente diminuí com a morte mas emocionalmente não.
Não
fomos feitos para morrer. Não fomos feitos para ficar doentes ou sofrer. Não
aceitamos o fim e a dor da morte mesmo sabendo que esta é a única certeza que
temos neste mundo em que vivemos, 09 meses não prepara ninguém para a
ausência da carne, do toque.
Sinto falta de ficar de mãos dadas enquanto lia as
curiosidades científicas da natureza, do mundo animal ou da história do mundo. Sinto
falta do jeitão espalhafatoso, brincalhão e da gulodice que enlouquecia minha
mãe enquanto ele ria.
Confesso
que estou com dificuldade em transformar meus sentimentos em palavras. Estão
confusos. Dor, negação e profunda tristeza.
No
texto de 04 anos atrás citei Gênesis 2:7 sobre o fôlego da vida, que diz: ...Deus
formou o ser humano com o pó do solo, soprou-lhe nas narinas o sopro da vida e
ele tornou-se um ser vivente.
Hoje
cito Jó 14:15 que diz: ... Tú chamarás e eu te responderei. Terás saudades
do trabalho das tuas mãos.
Alguém
muito especial e cuja a fé e conhecimento, apesar de escondido em meio ao
turbilhão do mundo, me disse o quanto Deus se alegrará, na hora certa,
com toda habilidade de marceneiro, eletricista, mecânico, motorista,
pintor, lavador de louça oficial da casa, marido, pai e avô. Foi a frase que mais acalmou meu coração.
Meu Pai amado e soberano guarde em sua memória meu amado pai humano
perfeito na imperfeição.
Seus
pecados apagados com sua morte e suas qualidades arquivados no Seu livro.
Disse
inúmeras vezes, “Eu te amo pai”, todas me parecem agora poucas ou nulas, então eternizo nessas tão difíceis palavras meu amor,
meu respeito e minha saudade.
Cuidar
de você não foi trabalho algum. Você cuidou de mim a vida toda. Descobri minha fraqueza
e despreparo nesse duro e triste processo.
De
toda a família fui a pior cuidadora, seja
física ou emocionalmente, não só dele.
Que minha família, minha mãe, meus irmãos e o segundo homem mais
importante da minha vida me perdoem por isso. Todos vocês me surpreenderam positivamente.
Estou
ausente por sua ausência de quem mais precisa: minha mãe. Não consigo entrar na
sua casa e não te ver. Ainda tem seu cheiro, o seu lugar na mesa deveria ficar
vazio como o vazio da sua ausência.
Quem
vai me aconselhar sobre problemas no trabalho sem eu sequer comentar mas por
perceber pelo meu jeito?
Quem
vai dizer que a Mel (minha golden retriever) é a neta mais educada?
Quem
vai tomar cerveja comigo as 11?
Que vazio, que dor, que saudade!
Que vazio, que dor, que saudade!
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